General José Batista de Queiroz
Membro da AHIMTB/DF
Três grandes generais brilharam na Antiguidade. O macedônio Alexandre Magno (356 a 323 a.C.), o cartaginês Aníbal (247 a 183 a.C.) e o romano Júlio César (100 a 44 a.C.) são considerados os três grandes mestres da guerra. Os dois primeiros tinham raízes militares. Todos, porém, foram inigualáveis na arte da guerra e invencíveis nas batalhas. Demonstraram ser magnânimos e cruéis com os seus adversários. César foi o mais condescendente com os seus inimigos. Todos sabiam perdoar, quando conveniente; punir, quando necessário. Esses três generais tinham coragem, audácia e liderança correndo em suas veias e, por isso, seus soldados lutavam pelo homem que os conduzia na batalha e não por suas ideias. Eram homens cheios de ambição; tinham sede de poder. Não iam à guerra por coisas pequenas, mas por coisas grandes. A ambição de César era ser ditador de Roma.
Júlio César tinha algumas características que o distinguiam dos outros dois generais. Sua ascensão não começou como militar, mas como político. Mesmo sendo descendente da aristocracia romana, era um homem populista, que se preocupava com o povo comum. Ao contrário de Alexandre e Aníbal, tinha visão política da guerra e, por isso, sabia quando começar e terminar. Para ele, quanto mais longa fosse a guerra, mais difícil seria terminá-la. Como chefe militar, César foi o mestre da velocidade e da surpresa. Disse Barry Strauss em seu livro "Mestres do Comando" que "o exército de César tinha a velocidade de um leopardo". Dizia César que "a coisa mais potente no combate é o inesperado". Durante a batalha de Farsália, ao perceber a tática que seria usada por Pompeu, seu adversário, mudou a formação de combate, causou pânico no inimigo e derrotou um exército muito superior ao seu. César era Cesar, sabia explorar a surpresa. Para ele, a batalha são tropas em movimento, que exigem mudanças de dispositivos, de acordo com a movimentação do inimigo. No combate, o ideal é que não existam erros, mas quando eles ocorrem, o importante é saber corrigi-los com rapidez. César era um líder que sabia motivar os soldados para a batalha e inspirá-los para a vitória. Os soldados confiavam nele. Nas batalhas, tal como Alexandre e Aníbal, César estava sempre à frente, correndo os mesmos riscos dos subordinados. Ele acreditava na sorte, no destino e na Divina Providência. Sua liderança era tão forte que seu exército suportava privações superiores às de outros exércitos. Para César, a reputação e o profissionalismo de um exército aumentam o seu poder de combate.
César viveu sua infância num ambiente conturbado em Roma. O Senado era o órgão que exercia o poder. Os senadores pertenciam à elite (patrícios), tinham cargo vitalício e desfrutavam de regalias e vantagens. Senadores e generais não confiavam uns nos outros. Em 88 a.C. o general Caio Mário, casado com uma tia de César, iniciou uma guerra civil e assumiu o poder, reduzindo a importância do senado e restringindo os privilégios de seus membros. Com a sua morte em 86 a.C., o general Lúcio Cornélio Sula (138-78 a.C.) foi proclamado ditador perpétuo, exercendo o poder de forma cruel e sanguinária. César atraiu sua inimizade, por casar-se com Cornélia, filha de um adversário político de Sula. Por isso, foi obrigado a refugiar-se na Ásia e teve seus bens confiscados. Com a morte de Sula, César volta para Roma e apoia o partido popular. Por se opor ao Senado e a Cneu Pompeu Magno (106-48 a.C.), foi obrigado a refugiar-se novamente na Ásia. Em 75 a.C., inicia-se a Terceira Guerra Mitridática, entre Mitrídates VI (rei do Ponto) e Roma. César, que estava na Ásia, envolve-se nesse conflito e ganha fama como comandante militar. De volta a Roma, ajuda Pompeu e Crasso (o homem mais rico de Roma) a abolir a Constituição outorgada por Sula. Aos poucos foi ganhando prestígio e notoriedade, passando a ocupar altos cargos públicos. Em 61 a.C., é nomeado "pretor" da Hispânia, conquistada por Pompeu, adquirindo o direito de organizar um exército. Em 60 a.C., alia-se a Pompeu e Crasso e, juntos, formam o Primeiro Triunvirato Romano, que assume o comando de Roma. Pompeu era casado com Júlia, filha de César. César e Pompeu eram conhecidos pelo talento militar e Crasso por sua riqueza. Essa aliança abriu caminho para César. Com o apoio de Pompeu e Crasso, foi eleito, em 60 a.C., "cônsul" (mais alto cargo político) da República Romana.
Em 59 a.C., assumiu o comando da Gália, com direito a ter quatro legiões sob seu comando (aproximadamente 24.000 soldados). A Gália compreendia a França, o norte da Itália e parte da Bélgica, Alemanha e Suíça, regiões habitadas por tribos celtas. De 58 a 52 a.C., Cesar conquistou toda a Gália, estendendo o domínio romano sobre os territórios a oeste do rio Reno, numa extensão aproximada de 600.000 km², adquirindo fama, riqueza e popularidade. Em 52 a.C., em Alésia, houve a última batalha das guerras gálicas, entre os 300.000 guerreiros liderados pelo gaulês Vercingetórix contra os 70.000 de Júlio Cesar. Foi a última tentativa gaulesa de expulsar os romanos de seu território. Inicialmente, os gauleses saíram vitoriosos, mas o cerco feito a Alésia por César levou o inimigo à fome. Com a rendição de Vercingetórix, César consolidou o domínio romano sobre toda a Gália. Alésia foi uma das grandes batalhas da antiguidade.
Em 53 a.C., Marco Licínio Crasso, membro do Triunvirato, organizou um exército e invadiu o Império Parta. Estava em busca de fama, gloria e mais riqueza. Após cruzar a Mesopotâmia, enfrentou o inimigo na cidade de Carras (Turquia). Embora tivesse um exército numericamente superior ao do comandante parta (Surena), foi vergonhosamente massacrado pelos partas. Crasso morreu nessa batalha e seus soldados foram mortos ou capturados. Com a morte de Crasso, abriu-se uma crise no Triunvirato Romano. Pompeu aliou-se ao Senado e, juntos, passaram a conspirar contra César, por causa de sua popularidade e fama, adquiridas nas guerras gálicas. Com o fim do Triunvirato, Pompeu obteve o apoio do Senado e da aristocracia e foi nomeado "cônsul" de Roma. Com o fim de seu mandato na Gália, César recebeu ordens do Senado, controlado por Pompeu, para dispensar o exército e retornar a Roma, em 50 a.C. Com o fim de seu mandato na Gália, César perderia suas imunidades processuais. Conhecendo as intenções de Pompeu e do Senado, Júlio César decide não cumprir a ordem e cruza o rio Rubicão (rio de águas vermelhas) com apenas uma legião (5.000 legionários), em 12 de janeiro de 49 a.C., violando a lei e iniciando uma guerra civil entre romanos, que duraria até 45 a.C. Ao chegar ao rio disse "Alea jacta est". Nenhum general poderia adentrar a Itália armado e Rubicão, a 250 km ao norte de Roma, era o limite entre a Gália Cisalpina e a Itália. Após cruzar o referido rio, conquistou várias cidades ao norte da Itália e derrotou, em 13 de fevereiro de 49 a.C., as tropas pompeianas, comandadas por Domício, em Corfínio,. Em seguida, marchou contra Roma, mas não invadiu a cidade. Os efetivos militares favoráveis a Pompeu estavam na Hispânia. Júlio César deixa o General Marco Antônio na Itália e marcha para a Hispânia, onde derrota, em Marselha, as tropas remanescentes deixadas por Pompeu. Mesmo contando com efetivo numericamente superior ao de César, Pompeu decide não enfrentá-lo e foge com o Senado para a cidade portuária de Dirráquio, na província romana de Epiro, que abrange territórios da atual Grécia e Albânia. Após o cerco a Marselha, César volta a Roma, onde se torna ditador. Em dezembro de 49 a.C., concede o título de cidadão romano aos habitantes da Gália Cisalpina que, no governo de general Sula, havia sido transformada em Província romana. Em 42 a.C., a Gália Cisalpina deixou de ser Província para tornar-se parte integrante da Itália romana.
Decorridos seis meses de sua aclamação como ditador, ele renuncia ao posto, cruza o mar Adriático e marcha em perseguição a Pompeu, que havia reorganizado seu exército em Dirráquio, na Albânia, onde os dois exércitos se enfrentam em 10 de outubro de 48 a.C. César cercou a cidade, obrigando os soldados de Pompeu a fugirem esfomeados. Sem suprimentos, César foi para a Tessália, norte da Grécia, em busca de alimentos para os seus soldados. Próximo à cidade de Farsália, os dois exércitos novamente se encontram, em 9 de agosto de 48 a.C. Pompeu tinha 60.000 homens contra 30.000 de César. Metade do exército de Pompeu foi massacrada. Perseguido por César, Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado em Alexandria por seus próprios soldados, a mando do rei Ptolomeu. Chegando ao Egito, Cesar apoiou Cleópatra na disputa contra seu irmão Ptolomeu, derrotado na batalha do Nilo em 47 a.C. César e Cleópatra se tornaram amantes e viveram juntos por mais de um ano. Em 46 a.C., ao retornar a Roma, foi nomeado ditador por 10 anos. Os filhos de Pompeu fugiram para a Hispânia e organizaram uma resistência, sendo derrotados na batalha de Munda, em março de 45 a.C. Munda fica no sul da Espanha, próximo ao canal de Gibraltar. Após essa batalha, César volta a Roma e protocola seu testamento, nomeando seu sobrinho-neto Caio Otávio ou Otaviano como seu herdeiro. A batalha de Munda marca o término da 2ª Guerra Civil da República Romana, iniciada em 12 de janeiro de 45 a.C., quando César cruzou o Rubicão.
Durante o seu curto governo, César planejou fazer uma reforma agrária, com distribuição de terras aos súditos; implementou um plano de obras públicas; promoveu inúmeras reformas políticas e sociais; diminuiu o número de cidadãos dependentes de alimentação fornecida pelo Estado e reduziu o poder e os privilégios dos senadores. Sua grande obra foi a reforma do calendário lunar, que tinha apenas 355 dias. Criou o ano de 12 meses e 365 dias. Esse calendário foi usado até 1582, quando foi substituído pelo calendário gregoriano.