23 de fev. de 2010

O Lulismo

O objetivo das forças políticas de um país é o poder. Não medem esforços para que possam exercê-lo pelo maior tempo possível. Ao longo da história, em muitos países os políticos mistificaram pessoas ou ideias para o domínio do poder. Não nos faltam exemplos. Tivemos o nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália, o maoísmo na China, o peronismo na Argentina, o trabalhismo no Brasil. Transformaram a liderança de uma pessoa numa força política. Hugo Chaves faz tudo para se transformar no pai do bolivarismo sul-americano, associando a idéia a uma ideologia socialista/comunista. Essa estratégia política às vezes gera bons resultados eleitorais.

            É com essa visão estratégica que a esquerda no Brasil está trabalhando. Ela chegou ao governo mediante o abandono da linha radical e a aliança com as forças de centro. Uma vez no governo, seguiu os mandamentos de Lênin. Apoderou-se da estrutura do Estado e dominou a mídia e os movimentos populares. Usou, de forma pirotécnica, os termos democracia e liberdade para confundir a sociedade. Suas reais intenções são outras. Aos poucos conquistou o poder e, então, iniciou um movimento na direção de suas origens. Seu objetivo é a construção de uma sociedade socialista/comunista. As forças políticas aliadas estão sendo, gradativamente, ajustadas a seus dogmas ideológicos ou reduzidas a posições subalternas. Essa esquerda é capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores. Esse movimento do partido na direção da esquerda radical está explícito no programa de governo, aprovado no 4º Congresso do Partido e que deverá ser seguido pela candidata à Presidência da República. É um programa, à semelhança do PNDH-3, com traços marcantes de uma ideologia socialista/comunista.

            O PT não abre mão de ser o berrante da boiada, de se firmar como líder das forças de esquerda. Trabalha para eleger a sua candidata a Presidente. Só assim poderá dar continuidade ao seu projeto político de instalar no Brasil uma sociedade socialista/comunista. Para eleger a candidata, quer aproveitar a popularidade do Presidente Lula e transformá-la numa força política, com o nome de lulismo, capaz de dominar o poder por algumas décadas. Este lulismo tem como força motora, além da popularidade do Presidente, os programas sociais, consolidados em uma única lei. Assim, a força política que elegerá a Dilma não será o PT e nem a dos demais partidos aliados, mas o próprio lulismo. Dilma será identificada para o eleitor como mãe dos programas sociais e Lula com o pai. Na política nada é previsível, porque o cenário é mutável. Veja o que ocorreu no Distrito Federal. A candidata do PT pode escorregar no caminho, seja por mudança de cenário, seja por não contagiar o eleitor, seja por erro de estratégia.  A verdade é que ninguém sabe o que está na cabeça do eleitor e nem como ele reagirá diante de novos fatos. A cabeça do eleitor está mais para a economia do que para a ideologia.

20 de fev. de 2010

A Comissão da "Verdade"

 Gen Ex Maynard Marques de Santa Rosa

        

A verdade é o apanágio do pensamento, o ideal da filosofia, a base fundamental da ciência. Absoluta, transcende opiniões e consensos, e não admite incertezas.

A busca do conhecimento verdadeiro é o objetivo do método científico. No memorável "Discurso sobre o Método", René Descartes, pai do racionalismo francês, alertou sobre as ameaças à isenção dos julgamentos, ao afirmar que "a precipitação e a prevenção são os maiores inimigos da verdade".

A opinião ideológica é antes de tudo dogmática, por vício de origem. Por isso, as mentes ideológicas tendem naturalmente ao fanatismo. Estudando o assunto, o filósofo Friedrich Nietszche concluiu que "as opiniões são mais perigosas para a verdade do que as mentiras".

Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.

A História da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar trinta mil vítimas por ano no reino da Espanha. 

A "Comissão da Verdade" de que trata o Decreto de 13 de janeiro de 2010, certamente, será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder.

Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou.  

 Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma "Comissão da Calúnia".

8 de fev. de 2010

O Poder é Afrodisíaco

por Maria Lucia Victor Barbosa, Socióloga

Algumas pessoas não entendem a aceitação quase unânime de Lula da Silva. Aconteça o que acontecer, pesquisas sempre registram assombroso e crescente prestígio do presidente da República. Escândalos atingindo seus companheiros mais próximos de partido e de governo, algo que em outros países no mínimo traria descrédito à figura presidencial, não acarreta consequência sobre o mito do salvador da pátria cuidadosamente construído. Apagões de transporte aéreo, apagões de energia, Educação no fundo do poço da mediocridade, Saúde em descalabro, estradas em estado calamitoso, nada perturba a paz e a alegria do presidente voador, que quando não se encontra em palanques ou sob as luzes das TVs está usufruindo de uma de suas inúmeras e maravilhosas voltas ao mundo.

No ano passado, o presidente que tanto criticou as viagens do seu antecessor passou 83 dias circulando pelo Brasil em campanha ilegal por Dilma Rousseff e 91 dias em 31 países. Neste ano ele já visitou, somente em janeiro, sete Estados, sempre acompanhado por sua ministra da Casa Civil e candidata. Entre frenéticos discursos Lula da Silva inaugura o que existe e o que não existe.

A popularidade do presidente, segundo alguns, vem do seu carisma. Será? Se fosse tão carismático ele teria se alçado à presidência da República na primeira tentativa e não na quarta. Outros atribuem o prestígio de Lula da Silva a sua genialidade. Mas gênio não emite tantos disparates quando deixa de lado a leitura dos discursos oficiais e expande sua verve populista, entremeada de palavrões e ataques pesados aos adversários.

Na verdade, a aceitação de Lula da Silva vem de alguns aspectos já conhecidos e por mim já abordados em artigos, tais como: propaganda asfixiante, impressionante culto da personalidade, exposição em over dose da figura presidencial trabalhada como um pop star, "bondades" distribuídas aos ricos, aos pobres e a chamada base aliada, o que demonstra a velha máxima: "pagando bem que mal tem".

Tudo isso seria suficiente para o endeusamento de Lula da Silva. Mas tem algo mais que tem sido feito por ele mesmo. Em arroubos megalomaníacos o presidente não cessa de se endeusar, de se auto-elogiar, de ensinar ao mundo seu exuberante êxito. Ele sente prazer em exercitar sua autoridade, de se impor. Por isso se diz que há algo afrodisíaco no poder. Rendida, a massa que escuta apaixonada a violência verbal chega ao êxtase coletivo e se rende ao culto do chefe ou à sua imagem, o dá a ele o grande recurso para governar.

A Lula da Silva basta a imagem, o tom de voz, os esgares. E quando a imagem se sobrepõe à verbalização temos o antidiscurso que justamente consagra o fascínio pela incoerência tão cara às massas.

Lula é a personificação do antidiscurso. Some-se a isso o que Hannah Arendt denominou como "instinto de submissão: "um desejo ardente de se deixar dirigir, de obedecer a um homem forte". Isso explica um dos fatores da obscura adesão a uma imagem, a uma projeção idealizada que jamais resistiria a sua própria realidade tosca, incoerente, medíocre, vulgar.

Em sua magistral obra, "O Estado Espetáculo", Roger-Gérard Schwartzenberg mostra como no fascismo a "multidão italiana se entregou ao Duce, o macho latino, de forma voluptuosamente submissa". E Hitler, demonstrando o comportamento machista do nazismo, declarou: "A grande maioria do povo se encontra numa disposição e num estado de espírito tão femininos que suas opiniões e seus atos são determinados muito mais pela impressão produzida sobre seus sentidos, que por uma reflexão pura".

Também na obra acima citada se encontra o que disse William Gavin, que foi membro da equipe de Nixon: "O eleitor é fundamentalmente preguiçoso e em hipótese alguma se poderá esperar que ele faça o menor esforço para compreender o que lhe dizem. Raciocinar exige um grau elevado de disciplina e concentração; é mais fácil impressionar. O raciocínio repugna ao telespectador, ou então o agride, exige que ele concorde ou recuse; uma impressão, ao contrário, pode envolvê-lo, solicitá-lo sem o colocar diante de uma exigência intelectual".

Os marqueteiros, esses construtores de imagens, sabem tudo isso. E os ególatras que alcançaram o poder praticam a sedução e a submissão das massas de modo espontâneo e masoquista. Seu egocentrismo desenfreado, seu hedonismo patológico os torna megalomaníacos. Entretanto, todos também sabem que paixões não são eternas. Tampouco existem deuses mortais.

Note-se que a paixão dos venezuelanos por Hugo Chávez, outro macho latino com características fascistas, começa chegar ao fim. Quanto ao presidente brasileiro é um homem de sorte incomensurável, mas sorte é algo aleatório e um dia pode acabar. Recentemente Lula da Silva provou para si mesmo que não é imortal. E começa a aprender o que ensinou Maquiavel: "Quem cria o poder de outrem se arruína". Ele que se cuide com Dilma Rousseff.

1 de fev. de 2010

A ONU e o Haiti

O Haiti é o assunto do momento. Vale à pena conhecer um pouco de sua História. A ilha de São Domingos foi descoberta por Cristóvão Colombo,em 1492. A sua parte ocidental, onde fica o Haiti, foi cedida à França pela Espanha, em 1697. No século XVIII, a região foi a mais próspera colônia francesa na América. Na Haiti, predomina a raça negra e foi lá onde primeiro se aboliu a escravidão no continente americano, em 1794. A partir desse mesmo ano, a França estendeu o seu domínio sobre toda a ilha. O Haiti tornou-se independente em 1804. A partir de então, os europeus e norte-americanos impuseram um bloqueio econômico sobre o país, por 60 anos. Para a suspensão desse bloqueio, o Haiti teve que pagar à França uma indenização de 90 milhões de francos, o que arrasou a sua economia. Posteriormente, o país foi dividido em dois e a Espanha reocupou a República Dominicana, localizada na parteoriental da ilha. No período de 1915 a 1934, os Estados Unidos
ocuparam o país militarmente. De 1957 a 1971, Francois Duvalier (o Papa Doc), governou o país com mão-de-ferro. Com a sua morte, assumiu o poder o seu filho Jean-Claude Duvalier (o Baby Doc), governando até 1986, também como ditador. A partir de então, o país viveu um período de grande instabilidade, com inúmeros golpes de Estado. Em 1991, a OEA, a ONU e os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao Haiti e, em 1994, a ONU decretou o bloqueio total ao país. A fim de tentar estabilizar o país, no início de 2004 a ONU aprovou o envio de uma Força de Paz, liderada pelo Brasil. Por existir ameaça à paz, a ONU instituiu a Missão de Paz que substituiu a Força de Paz em junho de 2004. Para o comando das forças militares, foi designando o General Heleno, do Exército Brasileiro. O efetivo aprovado pela ONU foi de 6.700 homens, oriundos de 16 países.
A população do país, com predominância da ascendência africana (90%),é de pouco mais de 10 milhões de habitantes, tendo a capital Porto Príncipe cerca de 2 milhões. O idioma mais falado é o crioulo (90%). A maioria da população (60%) professa o catolicismo. A economia é baseada na exportação do açúcar e em outros produtos primários. É o país mais pobre do mundo, com quase 50% de analfabetos e uma renda per capta extremamente baixa. Atualmente, com o terremoto, a economia e a infra-estrutura do país estão totalmente arrasadas. Até o poder político está desestruturado e inoperante. O país não tem governante. Os dois grandes problemas do Haiti sempre foram instabilidade e pobreza. Eles caminham de braços dados. Não é possível separar um do outro. São faces da mesma moeda. A ONU se preocupou apenas com a estabilidade política, como se fosse possível construir uma democracia
em ambiente de extrema pobreza. Quem vive na miséria e passa fome não está interessado em regime político. A sobrevivência é a primeira necessidade do ser humano e os países ricos estão lançando o Haiti nos braços do comunismo. Desde quando interveio no país, em 2004, a ONU não atentou para a importância de um plano que salve a economia do
país e proporcione melhores condições de vida ao povo. O que a ONU está fazendo é administrar a miséria e não investir para acabar com ela. Pensar que quem sempre viveu pobre pode suportar a pobreza até a morte é condenar um povo a viver sem fé e esperança. Se a democracia comandada pelos países ricos, é incapaz de levar esperança a uma população sofrida e pobre, o que tem a fazer é passar um atestado de incompetência. A democracia precisa temer o comunismo e provar que ela tem capacidade, vigor e energia para reconstruir um país e fazer o povo feliz. Em ambiente seco e desfavorável não se pode brincar com fogo. Cuba carrega sempre um tição na mão e pode provocar incêndio.
Ela está pertinho do Haiti. Os países democráticos estão colocando o Haiti nos braços do comunismo (ou socialismo do século XXI). Estão entregando a galinha à raposa, gratuitamente. Os países ricos não podem ficar acomodados diante da tragédia do Haiti, não podem ser lentos na resposta às necessidades do país e da população. O sofrimento tem um limite.