10 de nov. de 2009

A Esquerda e o Poder

José B. Queiroz

 

         A estratégia do comunismo para chegar ao poder era pela luta armada e pelo enfraquecimento das instituições. Lograram alguns êxitos. Mas fracassaram na maioria dos países. Com a extinção do comunismo, a esquerda reformulou sua estratégia. Quer chegar ao poder pelas urnas. Para isso conta com o apoio da mídia. Apresenta como objetivos de governo a inclusão social, a distribuição de renda, a geração de empregos, a inclusão das minorias raciais, o aumento da renda. Para o eleitor, esses objetivos são mais importantes do que o combate à corrupção. Para o pobre, a corrupção não o afeta. Às vezes, nem sabe que ela existe e muito menos o seu tamanho. Por isso, essa bandeira nunca deu voto a ninguém. O que realmente dá voto são os benefícios concedidos pelo Governo. Hoje, a soma de todos esses benefícios, referentes a um cidadão casado e desempregado, com dois filhos na Escola, chega a mais de dois salários mínimos por mês (Lei Nº 10.836, de 9 de Janeiro de 2004). A estratégia da esquerda hoje é unir-se em torno de um projeto único e dominar o poder pacificamente. Para isso, usa todos os meios e artifícios.

  

 Essa estratégia de conceder benefícios às classes menos favorecidas gera imensuráveis dividendos eleitorais. Todo mundo sabe disso, mas a esquerda saiu na frente. Lula chegou ao governo e desenvolveu uma política para conquistar o eleitor e o poder. Quando era oposição, foi contra esses benefícios. No poder, vestiu a camisa dos pobres, sabendo que eles representam uma parcela significativa da sociedade e sensibilizam a classe média. Para dominar o poder, realizou ações em duas frentes: uma política e outra administrativa. Na frente política, cooptou todas as siglas partidárias de esquerda e buscou uma aliança com o partido de maior densidade eleitoral. Neutralizou ainda os sindicatos e os movimentos estudantis e sociais. Na outra frente, aparelhou a estrutura do Estado, inclusive o Judiciário, com pessoas ligadas à esquerda e de sua inteira confiança. O Itamarati passa por um processo de reformulação ideológica e as Forças Armadas amargam um desmantelamento progressivo.

 

Com essa estrutura de poder, a esquerda possivelmente dominará o Estado brasileiro por alguns anos. Para isso, fará coalizões políticas, mesmo que seja com antigos adversários. O importante não é quem governa, mas quem conduz o cajado. A mídia e os movimentos sociais estão do seu lado. Os partidos de direita, no Brasil e nos países do terceiro mundo, foram estereotipados pela mídia como patrocinadores das ditaduras. Essa imagem contaminou o eleitor, acarretando o esvaziamento desses partidos. Hoje, nenhum candidato ousa se identificar perante o eleitor como político de direita. Ser da esquerda virou moda entre nós. Estas duas vertentes ideológicas possuem grandes diferenças em sua praxe política.  A direita sempre trabalha atrás do palco e a esquerda na frente. Uma faz suas reivindicações nos gabinetes e a outra nas ruas. Se a direita quiser sobreviver terá que usar a mesma estratégia da esquerda, terá que investir nos segmentos mais carentes e excluídos da sociedade. Sem voto, ninguém ganha eleição. A eleição, quando limpa e republicana, fortalece a democracia; quando fraudulenta, distorce. A direita precisa aprender com a esquerda e dar mais efetividade e conteúdo à democracia.