24 de out. de 2010

Drama de um eleitor

 José B. Queiroz

(Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil)

         No primeiro turno das eleições 2010, procurei um partido que tivesse um programa sintonizado com as minhas idéias para dar meu voto. Não identifiquei um diferencial importante entre eles. Todos tinham o mesmo discurso. A diferença não estava no conteúdo, mas no detalhe, nas nuances. Todos se aglutinavam no centro e falavam a mesma coisa. Queriam agradar a cristãos e ateus, a nobres e plebeus. Frequentavam terreiros de umbanda, oravam em cultos evangélicos e participavam das festas católicas. Tudo para ficar de bem com os fieis. Havia candidato que, quando no governo, apoiavam leis anticristãs e antidemocráticas. No palanque, jurava fidelidade a Deus e à democracia. A verdade é que todos se dobram ao sabor do vento. Não se mantêm firmes como os pés de aroeira. Fazem coligações, que mais parecem mistura de óleo e água. Sem doutrina, sem programas e sem identidade, fica difícil escolher um partido para votar. O jeito mesmo é votar nas pessoas. Os radicais de esquerda são mais autênticos. Mantêm um discurso uniforme e linear contra o capitalismo e a favor do socialismo.   Estes partidos, entretanto, não pensam em conquistar o poder agora, porque não têm quadros profissionais suficientes. Por isso, podem manter a linha radical de seu discurso.

            Não podendo escolher partido, fui obrigado a escolher candidatos. Os que me pareciam mais sinceros e honestos diziam que, se eleitos, iriam lutar contra o capitalismo e a favor de um Estado prepotente e forte. Os demais tinham cara de mentirosos. Prometiam melhorar o Brasil, investindo em saúde, educação e transporte de qualidade. Coisas que não fizeram quando estavam no governo. São todos iguais. Prometem melhorar tudo, até o sorriso das pessoas. Nos programas eleitorais, usam imagens de pessoas pobres, mostrando alegria e felicidade, como se estivessem num paraíso terrestre. Muitos desses candidatos governaram por muitos anos e não fizeram nada - e se fizeram foi muito pouco – para melhorar a situação da saúde, a qualidade do ensino e do transporte público, a qualificação da mão-de-obra, as condições das estradas. Agora, em época de eleição, prometem mudar tudo isso, prometem construir um novo Brasil. Vendem promessas, mentiras e fantasias a um povo que acredita em sonhos. Juram ética e honestidade, até mesmo aqueles que estão com a ficha suja. Muitos têm o seu nome citado em escândalos, tráfico de influência e desvio de dinheiro público. Mesmo assim, juram inocência e fazem cara de paisagem para o pobre eleitor. A verdade é que tive e tenho muita dificuldade em encontrar candidato que merecesse ou mereça o meu voto. Votar no Brasil está muito fácil com a urna eletrônica. O difícil mesmo é encontrar um candidato em quem votar. Todos são autênticos na mentira e falsos na verdade. Todos só querem o poder para desfrutar de suas benesses. Coitado do Brasil e dos eleitores brasileiros!...