25 de out. de 2009

Brasil: Uma democracia inacabada.

José B. Queiroz

No mundo há país que tem tudo para dar errado e dá certo; há também país que tem tudo para dar certo e dá errado. Coreia do Sul é um exemplo. Mas também lá existe mais PHD por habitante que nos Estados Unidos. O Brasil, coitado, tem uma potencialidade imensurável, sem adversidades naturais, mas sua realidade é extremamente constrangedora e desconfortável. Nosso país não conseguiu dar saltos de qualidade na educação, na reforma agrária, na saúde, na gestão pública, na distribuição da riqueza. Quando avança, é em passo de tartaruga. Os países do primeiro mundo estão conectados com o seu futuro por rodovias asfaltadas. Nossa conexão, porém, se faz por estradas de terra e ainda esburacadas. Estamos amarrados e escravizados por uma estrutura social injusta e cheia de nós. Queiramos ou não, estamos longe do paraíso.

A impunidade, a corrupção, as desigualdades, tudo continua escorrendo na retina de nossos olhos. São realidades que alimentam os discursos e atravessam o tempo. Os políticos se revezam nas falsas promessas. Prometem tudo, até paraíso para os pecadores. Enganam o povo e são reeleitos por este mesmo povo. São pródigos com os apadrinhados e criativos nas ilicitudes. Negam tudo e o povo acredita na verdade que eles mesmos constroem.

O Brasil é o país do consenso na teoria e do dissenso na prática. Discursos e ações caminham em direções opostas. Todos condenam a corrupção, mas elegem corruptos como representantes. Muitos querem melhor distribuição de renda, desde que ela comece pela dos outros. A idéia une todos, a ação os separa. A única classe realmente unida são os políticos. O problema é que essa união se dá nos vícios e não nas virtudes. Assim, fica difícil fazer a junção do presente com o futuro. Os nossos políticos são como águas barrentas e poluídas, separando as margens do rio; separando o sonho da realidade, o futuro do presente.

O Judiciário está de costas para a democracia. A nossa Justiça é cara, morosa, parcial e desonesta. Seus membros e servidores estão mais preocupados com os seus salários do que com a qualidade dos serviços jurisdicionais. Uma ação dura anos e anos até ser julgada. Às vezes o réu morre sem pagar a pena, o impetrante sem desfrutar dos benefícios. O cidadão não tem como fazer valer o seu direito, ainda mais quando o réu é o Estado, agora protegido pela lei do calote. Sem justiça não há democracia. A lei deveria valer para todos, mas só vale para alguns. Ela só existe para quem a acata, não para quem a infringe.

Os políticos e os partidos defendem ética na política e transparência no governo, mas só quando estão na oposição. Ao chegarem ao poder, tudo se transforma. As idéias e as convicções mudam como palmeiras ao vento, como nuvens no céu. Decantam como pedra na água. A ética é colocada em quarentena e a honestidade no calabouço. A esperança do eleitor é a única força que dá vida à democracia.

Quando há alternância no poder, a pilhagem do Estado não sofre solução de continuidade. É um mal crônico. Governo e sociedade disputam a paternidade da corrupção. Ninguém sabe onde começa nem onde termina. O Estado espolia o cidadão, o cidadão sonega o Estado. É uma competição que não tem fim. O povo continua exercendo o direito do voto. Um voto que não tem conseqüência, porque não muda nada. Ele não faz democracia. É apenas um dos elementos. Muitas vezes, é usado como roupagem. O eleito não tem compromisso com o eleitor, exceto na época da eleição. A nossa democracia é apenas política, nunca social; é formal, nunca efetiva. Milhões de brasileiros sonham com um salário mínimo, por mais mínimo que ele seja. Somos muitos, mas apenas poucos desfrutam da nossa democracia. Ela é o sonho de todos, um sonho que mais parece uma lua desfilando no céu. Somos uma democracia formal e inacabada, onde o sol brilha para poucos e se esconde para muitos. Somos um país sem cidadania, um rio sem água.

18 de out. de 2009

A Esquerda Obsoleta

José B. Queiroz

Numa viagem recente à Europa Central, constatei que as pessoas estão muito mais preocupadas em discutir qualidade de vida, desenvolvimento econômico do que ideologias. O que na verdade os países buscam é uma integração regional que lhes proporcione menos fronteiras.

A dominação soviética colocou os países do leste europeu em posição muito inferior aos da Europa ocidental. Com a extinção do comunismo, a liberdade voltou a fazer parte da vida das pessoas. A democracia se transformou na estrada para o futuro, o capitalismo na ferramenta para o progresso. O ensino do idioma russo deu lugar ao inglês e ao espanhol. O inglês por sua universalidade e o espanhol pela quantidade crescente de turistas. É claro que não são oriundos de Cuba. Aliás, a coisa mais rara do mundo é encontrar turista cubano.

Atualmente, o único povo que faz a apologia da pobreza, que se orgulha da igualdade na miséria, é o cubano. Nunca conheci um país dirigido pela esquerda radical, onde o povo tivesse alto padrão de vida. O mundo é assim mesmo. Quem nunca esteve no céu adora o purgatório. Quem sempre morou na rua tem o barraco como palácio. Quem nunca saiu do casulo não conhece a luz do sol. Quem sempre viveu em ditadura não sabe o que é liberdade. O pior é que ainda coloca a culpa nos Estados Unidos, pela miséria em que vivem. Jamais culpa o regime imposto por Fidel Castro, um dos homens mais ricos comandando um dos países mais pobres. Ele é o maior ídolo dessa esquerda radical sobrevivente no mundo.

Nunca vi uma ideologia tão obsoleta e arcaica como a da esquerda radical. Tem inveja da riqueza e ódio dos que trabalham. Considera a Estátua da Liberdade em Nova Iorque como o dragão do imperialismo e não como o símbolo da liberdade. Aliás, a liberdade é o bem que essa esquerda mais utiliza para chegar ao poder e o que ela mais rejeita quando está nele. Sua doutrina é oposta à da verdadeira democracia. Sua democracia é a de Cuba, amputada de pernas e braços. Se a vida em Cuba fosse tão saudável, o mundo inteiro gostaria de migrar para lá. Se o seu regime fosse realmente bom, a maioria dos países o adotaria como solução. Mas essa não é a realidade do mundo. Quem adotou o comunismo patinou no tempo e travou o desenvolvimento da sociedade.

O comunismo foi a maior epidemia bacteriana que já assolou o mundo. Foi o maior pesadelo que os países já tiveram. E ainda existe gente apaixonada pelos ídolos comunistas. Para mim, a ideologia é como a cor, onde existem os tons. Os regimes ditatoriais se hospedam sempre nos extremos, tanto da direita como da esquerda. São assimétricos à liberdade e à democracia. Existe esquerda com tonalidade democrática, que convive com o Estado de Direito, que defende o voto livre, que respeita as urnas, que tem diálogo com todos os setores da sociedade. A esquerda radical, porém, se julga dona da verdade, proprietária do Direito. Considera o Estado como patrimônio e os cidadãos como súditos. Por isso, jamais serei um simpatizante dessa esquerda. Seu conceito de democracia é muito diferente do meu. A liberdade, o direito e o voto livre fazem parte da minha vida, mas não estão no dicionário dessa esquerda radical e arcaica, que insiste em sobreviver em Cuba e na Coréia do Norte. Até a Rússia abandonou esse regime, que só trouxe amargura e sofrimento para muitos países. A democracia tem seus defeitos, mas ainda não se descobriu outro regime melhor. Ela sempre caminhou para o futuro e o comunismo para o passado. E ainda existem pessoas sonhando com comunismo.

3 de out. de 2009

Sonho e Realidade

José Batista Queiroz – jobaque@terra.com.br

A gente quando jovem tem muitos sonhos. Sonha com um Brasil melhor, mais justo, mais democrático. Sonha com um judiciário ágil, isento, capaz de levar a democracia a todos, de punir os corruptos e criminosos, de despertar esperança no povo. Sonha com instituições públicas transparentes e imunes à corrupção, dirigidas por pessoas honestas. Sonha com um legislativo atuante, independente, sensível às aspirações e às críticas da sociedade; engajado na luta pela construção de uma verdadeira democracia. Sonha com políticos sérios, honrados, comprometidos com o interesse público, fiéis a seus partidos e aos eleitores. Sonha com parlamentares que engrandecem o mandato com a nobreza do seu caráter e a abundância de suas virtudes. São exemplos para todos nós. Sonha com pessoas de bem, que cumprem o seu dever, que não use o dinheiro público para mordomias, que não multipliquem os seus bens com o desvio de recursos. Sonha com um Presidente inimigo da corrupção, engajado na luta contra o analfabetismo e a miséria. Sonha com eleições republicanas, onde os eleitores são independentes para votar, não se subordinando aos benefícios do governo nem aos favores dos candidatos. Sonha com um Brasil, onde os campos são mais verdes, os rios mais cristalinos, os lares mais felizes. Sonha com um Brasil bonito, sorridente, brejeiro, dando ao povo alegria e orgulho de ser brasileiro. Sonha com a felicidade.

Quando a gente cresce, a realidade rouba todos esses sonhos. A alegria se transforma em tristeza, o sorriso em lágrimas, a paz em violência. A beleza se ausenta dos campos, dos rios, das florestas. Até o céu deixa de ser azul, a noite de ser estrelada. A esperança foge para longe como fazem as nuvens tocadas pelo vento. Os homens de bem desaparecem. Os honestos sentem vergonha de ser honestos. Em seu lugar aparecem os maus e os corruptos. Estes crescem como cogumelos e continuam impunes. A justiça se torna prisioneira das formalidades e da morosidade, sendo rápida apenas na proteção dos poderosos e nos aumentos de salário. Nos tribunais não há espaço para guardar processos. Muitos caducam. Os ladrões e assassinos vivem soltos e as pessoas de bem aprisionadas. A igualdade entre as raças dá lugar à discriminação. A cor da pele se torna mais importante do que o mérito da competência. O governo dá refúgio a assassino estrangeiro. Faz aliança com pessoas corruptas. Dá uma versão moderna à escravidão, abolida há mais de um século. Transforma os pobres em prisioneiros de benefícios, tirando-lhes a independência do voto. Substitui a escravidão da pele pela escravidão da pobreza. Surge uma democracia irreal e distorcida. No Senado, a virtude é mais rara do que neve no deserto. A transparência dá lugar a atos secretos. Os escândalos não têm dia de folga, nem nos feriados. Os parlamentares são benevolentes com as mordomias e as gratificações dos apadrinhados. Enviam seus protegidos para estudar no exterior à custa do contribuinte. Suas fortunas se multiplicam. Uns possuem até castelo. Parlamentar pobre é coisa rara. Insistem em ficar ricos. Tudo isso levou meus sonhos à decantação. Colocou uma coroa de espinhos em minha cabeça. Mas mesmo assim continuo a caminhar. Insisto em viver e ser honesto. Não quero me sentir morto para a democracia. Quero continuar vivo para pedir a todos uma sobrevida à esperança, rejeitando nas urnas os atuais parlamentares. São eles que nos fazem sofrer, que imobilizam o nosso futuro., tornando-o distante como o encontro do céu e do mar. O maior desejo de nossa gente é que os homens públicos sejam honestos, pelo menos um dia em sua vida. Talvez assim tomem gosto pela honestidade e possamos ser felizes. Gostaria que os parlamentares dessem dignidade ao nome, trabalhassem pelo Brasil, aproximassem o futuro do presente e dessem alegria ao povo brasileiro.