9 de set. de 2015

VOLTA À BRASILÂNDIA

Anteriormente, falei sobre minha visita à Brasilândia. Senti-me frustrado em ver uma realidade com tanta escuridão. A economia estava andando de muletas. Vivia dias de incertezas, de desesperança, de cansaço. Parecia carro em ponto morto, sem força pra subir morro. Resolvi voltar para ver se alguma coisa havia mudado. A natureza continua bela e luxuriosa. Encanta qualquer visitante. Os dias sempre amanhecem cheios de sol. As tardes se escondem nas ondulações das serras, colorindo as nuvens rendadas quem cobrem o céu. Os campos acordam esmaltados pelo orvalho que a noite deixa. As matas exibem o seu verde exuberante, símbolo de vida e encanto. Os rios correm suaves por entre suas margens, só desviando de curso, quando São Pedro exagera em sua bondade. Na costa, o mar beija as praias, longas e sedosas, aquecidas pelos raios dourados do sol. O vento balança a folhagem dos coqueiros. A brisa refresca os corpos desnudos deitados na areia.  Contemplar essa natureza tão cheia de poesia e não se encantar é o mesmo que escalar a montanha e não enxergar os vales. A natureza de Brasilândia parece ter sido feita de flores. É linda e perfumada. Merece um sorriso, uma lágrima, uma oração. Quanto ao povo, a bondade e a alegria continuam brilhando em seus corações. Para ele, a vida é como o vento, com o rio, como a chuva. Tudo é simples e parece estar bom. Tanto faz pisar uma ou duas vezes no mesmo prego. A dor vai ser a mesma. Tudo é igual. Nada se transforma. É mais fácil o jacaré dar um sorriso do que as coisas mudarem. Elas só mudam de verdade mediante uma revolução, que é pouco provável. Além desse pacifismo genético, o povo é incoerente. Muda de ideia como a palmeira muda de rumo. Não sabe o que realmente quer. Ora está na esquerda, ora na direita. Tudo por falta de solidez na educação. Para ele, democracia e liberdade são ideias subjetivas. O que realmente importa é a cerveja e a cachaça, o carnaval e o futebol, o feijão e o arroz. O resto é resto.

            Quanto à realidade política, ela mudou para pior. Os políticos continuam sendo os grandes pecadores, os grandes vilões da história. A corrupção é o maior pecado e o político o maior pecador. Tornou-se endêmica. Está por toda parte. Já contaminou até os vasos sanguíneos. É forte e perigosa.  Para frustração e agonia do povo, todos os pecadores são cegos, surdos, mudos e ainda mentirosos. Os políticos de Brasilândia, em sua maioria, envergonham o país. Desviam recursos com a maior cara de pau. Eles já nascem defeituosos e mal intencionados. Sua alma é retorcida como árvore do cerrado. Se queimá-la, até a cinza sai torta. Por onde andam, praticam sempre más ações, sem nunca deixar rastros. São espertos como aves de rapina. Zombam do eleitor. Andam sempre com supositórios para colocar no povo. Em Brasilândia, os maiores ladrões não são os pobres, mas os de casaca. A presidência do país continua sendo exercida por uma mulher. Ela se julga uma Imperatriz, sentada num trono aveludado, mas não tem elegância nem charme. É mandona, incompetente, autoritária, prepotente e ainda mal educada. Deus, por ser bondoso, poderia fazer duas caridades: ajudar o povo a tirá-la do trono e levá-la para bem longe. Não apenas ela, mas também o seu partido. Eles levaram o país para o fundo do mar. Confiscaram o futuro do país. Tudo por causa de ideias arcaicas, ultrapassadas, envelhecidas. Ideias de um socialismo fracassado. Vestiram a realidade com fantasias, com mentiras. Enganaram o povo. Querem ser uma lenda na história. É muita arrogância e pretensão. Eles nada mais são do que uma nuvem negra nos céus de Brasilândia, um pesadelo no sono do povo, um rio que desviou de seu curso. Vão entregar o governo, bagunçado como os dias de carnaval. Um dia os eleitores vão exercer a sua sabedoria e tirar do trono a falsa Imperatriz. Mudanças, porém, só ocorrerão se os pecadores forem todos guilhotinados. O povo, porém, não gosta de violência. Prefere deixar como está. Todo governo tem vida limitada.  Ele é como as águas de um rio que acaba no mar, onde deixará de ser rio. As águas que virão têm, entretanto, as mesmas nascentes. Serão barrentas como as que já passaram. Mas Deus é caridoso. Ele iluminará o eleitor na hora de votar e talvez uma nova esperança brilhe no céu.

 

José Batista de Queiroz

Brasília, 27/8/2015                                                jobaque@gmail.com

9 de ago. de 2015

BRASILÂNDIA

Um dia fui conhecer Brasilândia. Todo mundo fala de suas maravilhas e belezas naturais. Até parece a terra prometida. Tem de tudo para todos. Tem planícies, vales, montanhas, rios, cachoeiras, florestas, praias. Tem sertões semiáridos e mar a perder de vista. De tudo, um pouco. Tem sabiás nas laranjeiras, saracuras nas capoeiras, tucanos nas veredas, araras nos esbarrancados, seriemas nas campinas, periquitos nas mangueiras, quero-quero nas coxilhas. Tem palmeiras ao vento, mandacarus nos sertões, ipês nos cerrados. É uma terra variada e abençoada, colorida e fértil. Tudo o que se planta dá.  Seu povo é alegre, hospitaleiro, pacífico. Nasceu da mestiçagem entre o branco, o índio e o negro. É uma mistura de raças e nacionalidades. Gosta de viver o presente, com carnaval e futebol. O ontem e o amanhã são sempre relegados. É também conformado com a realidade.  Nunca pensa que poderia estar melhor. Sempre acha que poderia estar pior. É a filosofia de gente sofrida, de gente sem futuro. A esperança está acoplada ao futuro. Ele parece estar muito distante, talvez lá onde as paralelas se encontram ou onde as estrelas se penduram. Há quase dois séculos, houve-se falar do futuro de Brasilândia. Mas ele nunca chegou. Muita gente já morreu sem conhecê-lo. Ninguém sabe se está longe ou perto, se já chegou ou vai chegar. O importante, porém, é acreditar nele, é ter esperança. Povo sem esperança pode dar salto no escuro, pode fazer revolução. E isso não é bom nem conveniente para quem possui carteira de autoridade, para quem desfruta das benesses do poder. Essa esperança vem caminhando pelo tempo afora. Às vezes, apresenta sinais de cansaço, mas não para. Sempre há momentos de descanso e renovação. A cada eleição, o sol nasce e brilha no céu. Depois, tudo volta ao que era antes. Ele volta a ser raquítico e amarelado. Assim é Brasilândia. Uma terra de futuro, um futuro desfrutado por poucos e negado a muitos. Uma terra onde poucos ficam ricos da noite para o dia. Basta ser inteligente e esperto. Inteligente para conhecer as fraquezas do povo, as rachaduras das leis, os caminhos do poder. Esperto para colocar a honestidade empalhada no museu, para enganar o povo nas eleições, para usar o cargo em benefício próprio. Brasílândia é uma terra onde são poucos os ricos e muitos os pobres. Os ricos ocupam os palácios e as casas grandes. Vestem fraques e casacas. Os pobres ocupam as ruas e as senzalas. Usam tênis e sandálias. Às vezes, andam descalços. Os ricos estão no paraíso, lá onde viveram Adão e Eva; os pobres, no passado, sentados na curva do tempo, esperando pelo futuro.

            Brasilândia sofre de muitas doenças. A pior delas é a corrupção. Parece incurável. Não há remédio que dê conta. O pior é que virou moda. Ela nasceu de uma superbactéria, cujo nome científico é KPT. Nos últimos anos, espalhou-se por todos os lugares. O local preferido, porém, são as repartições públicas e as grandes empresas. Saqueiam de dia e de noite. Não têm hora nem vergonha. Tudo já está até institucionalizado. É a atividade mais forte e lucrativa. O saque não é mais individual, mas coletivo. Quem saqueia diz ser inocente e ainda afirma perante a Justiça que nada sabe e nada viu. E a Justiça acredita. Ninguém é condenado por roubar milhões. Quando é, fica em casa de tornozeleira eletrônica, bebendo vinho e planejando outros roubos. Quem rouba tostão, acaba mesmo é na prisão, sem dó nem piedade. Parece que as leis foram feitas para beneficiar os engravatados e os que ocupam os espaços do poder. Os maus exemplos vêm sempre de cima, nunca de baixo As comissões de inquérito, abertas no Parlamento, chegam sempre à mesma conclusão: há crimes, mas não há criminosos. Se há, são inocentados. A casa do povo não passa de uma grande pizzaria. Tudo dá em nada e o povo se dá por satisfeito e fica acomodado. Faz parte de sua índole. O amanhã será outro dia e tudo estará esquecido. A alma é generosa, mas a memória é curta. Que dura realidade!  Um país tão jovem e com tantas doenças e tantos malfeitores. O povo, coitado, já se acostumou com tudo isso. A honestidade perdeu a vontade de viver por falta de consumo. Acabou sendo embalsamada e colocada num sarcófago. Alguns valores, de tanto ficarem mofando nas prateleiras, migraram para outros países, em busca de consumidor. Rui Barbosa tinha razão. O povo tem também a sua culpa. Sabe de tudo. Faz passeatas contra esta epidemia que tomou conta do país, mas sempre elege os mesmos homens para representá-lo, mesmo sabendo que são corruptos. Também não há muita opção. Cada qual é pior do que outro. Todos, porém, são generosos nas promessas, exagerados na fidalguia, afetuosos nos abraços. Tudo é abundante como água do mar. Em Brasilândia, os parlamentares, em todos os seus níveis, não representam o povo, mas a si próprios. O coletivo deu lugar ao individual. São muito espertos e inteligentes. Sabem enganar a todos. Transformam verdades em mentiras e mentiras em verdades. E o povo acredita neles. Povo crente é desse jeito. Acredita que pedra dá leite, que água corre pra cima, que penico é panela. Tudo depende da forma como as coisas são explicadas. E os políticos são especialistas nisso. São caras de pau. Enganam até Deus.  Chegam a dizer que ser rico é melhor que ser pobre. O pobre vai para o Céu e o rico para o Inferno.  Essa teoria levou parte da população a optar pela pobreza, na esperança de um dia ser rico no Céu. Lá todos são iguais. Não há problemas de distribuição de renda nem de terras. Assim é Brasilândia. Uma terra onde os políticos prometem até o Céu para as pessoas.

                Outra característica que pude identificar foi a mordomia dos que têm poder. Eles têm tudo. Além do salário, têm carro, motorista, gasolina, telefone, auxilio moradia, verba de representação, verba de gabinete, assistência médica. Qualquer chefe mequetrefe usa carro oficial. Tudo sai do bolso do contribuinte. Em Brasilândia, ninguém pensa em chegar ao poder para melhorar a vida do povo, mas para esvaziar os cofres e ficar rico. Rouba-se tudo, até mesmo a merenda das crianças nas escolas. Enquanto isso, o cidadão comum vive na pindaíba, sofrendo com preços altos e salários baixos.  O seu sofrimento é parecido com o de Jesus Cristo. Sofre nos hospitais, nas Escolas, nos transportes públicos. Nos hospitais falta medicamento e sobra bactéria, falta médico e sobra paciente.

                Para conhecer bem Brasilândia é preciso visitar os palácios e andar pelos becos e pelas ruelas. É preciso ter olhos para ver e ouvidos para escutar. É uma terra bonita e rica, habitada por um povo bom e sofrido. O povo até quer mudanças, mas elas são difíceis de acontecer. Os interesses dos privilegiados são muito fortes.  É uma luta da formiga contra o elefante, da rolinha contra o gavião, do vidro contra a pedra, da escopeta contra o canhão. O futuro de Brasilândia é grandioso, mas está longe, talvez lá onde o céu e o mar se encontram, lá onde o sol se põe.

Brasília, 11 de junho de 2015

 

General José Batista de Queiroz

jobaque@gmail.com

7 de mai. de 2015

Saudação aos Granadeiros

Hoje, nesta cidade de Caldas Novas, o passado e o presente se encontram, os granadeiros de ontem e de hoje se reúnem, para juntos festejarmos a imortalidade da alegria de ser soldado, para cantarmos as mesmas canções que embalaram o nosso tempo de caserna, para ouvirmos os mesmos sons dos clarins que sempre anunciam a alvorada e o silêncio. É o presente festejando o passado, com o brilho de quem fez e deixou história. Este recinto é hoje o recanto patriótico onde brilha a alma guerreira de um granadeiro. Vejo aqui a alegria e a saudade reluzindo no coração de cada um de vocês, tal como as estrelas reluzem no céu. Hoje, o passado e o presente se tornam vasos comunicantes das mesmas alegrias, da mesma história, dos mesmos valores, das mesmas canções alegres de nossa terra. Somos cidadãos da mesma Pátria, somos soldados do mesmo Exército.

Há muitos anos, vocês deixaram seus lares e enfrentaram o desafio do serviço militar. Fizeram-no com coragem, valentia e grandeza; com a mesma coragem com que as ondas enfrentam os rochedos, com a mesma valentia com que os centuriões enfrentam as batalhas, com a mesma grandeza com que o ideal enfrenta os desafios. Por isso, deixaram na história do Batalhão da Guarda Presidencial frisos purpurados, como aqueles que os raios do sol poente deixam nos horizontes das serras, dos mares, do céu.  

Não encontraram na caserna nem favela nem palácio. Apenas uma casa simples, de homens simples como vocês, que usam palavras simples para dizer a verdade. É a casa do soldado, uma casa de tradições, mas sem velhice, uma casa que é um reino, mas não tem majestade. O quartel foi o seu desafio, o uniforme a sua honra.

Vocês, granadeiros, têm alma de soldado, porque amam o seu país, como as flores amam a primavera; porque ouvem o som de um clarim como se fosse o canto de um rouxinol. Vocês têm alma de soldado, porque têm orgulho do uniforme que vestiram, porque retiveram em suas vidas os mesmos valores que imantam a alma de um soldado.

Nós somos todos iguais. O que nos torna iguais não é a história, nem a ideologia, nem a profissão, é o amor que temos pelo Exército e pelo Brasil. A Pátria existe na alma e no coração de todos nós. As cores do Exército e do Brasil estão para vocês como o azul está para o céu, como o orvalho está para as manhãs, como perfume está para as flores.

            Os exemplos que vocês deixaram no BGP chegam às novas gerações como o vento chega aos moinhos, como as brisas chegam às praias, como as águas chegam aos rios, como os rios chegam ao mar. Estes exemplos continuam hasteados no mastro do Batalhão, drapejando ao vento e mostrando ao soldado a direção do dever e da virtude.

            A vibração de vocês tem a grandeza do altar, a força da fé, a dimensão do tempo. Ela contamina os novos soldados como os momentos contaminam a eternidade, como a neve contamina os montes, como as estrelas contaminam a noite.

            Ser soldado não foi um sonho de vocês, mas foi um instante da vida que ficou embalsamado em sua alma como a história fica no tempo. A passagem de vocês pelo Exército não foi como as nuvens, que passam e se dissolvem; nem como as sombras, que surgem e desaparecem. Foi como as águas que correm mas nunca se acabam; foi como o tempo, que passa mas nunca termina.

            Granadeiros! Que o amor pelo Exército e pelo Brasil continue fluindo em seus corações e irrigando as suas vidas. Ele tem o encanto das águas dormentes que acolhem o luar, a consistência dos montes rochosos que seguram os ventos, a beleza das neblinas suaves que cobrem os vales.

Que a vida esteja sempre presente nesse corpo envelhecido    habitado por uma alma jovem. Lutem pela continuidade da vida como as centúrias romanas lutaram pela vitória. Resistam aos anos como as palmeiras resistem ao vento. Que Deus ilumine todos vocês como o sol ilumina o dia, como a lua ilumina a noite, como o amor ilumina a felicidade.

 

Granadeiros! Sejam felizes e até a próxima reunião.

 

Caldas Novas, 24 de abril de 2015.

 

Gen Bda José Batista de Queiroz

Membro do Batalhão da Saudade.