3 de out. de 2009

Sonho e Realidade

José Batista Queiroz – jobaque@terra.com.br

A gente quando jovem tem muitos sonhos. Sonha com um Brasil melhor, mais justo, mais democrático. Sonha com um judiciário ágil, isento, capaz de levar a democracia a todos, de punir os corruptos e criminosos, de despertar esperança no povo. Sonha com instituições públicas transparentes e imunes à corrupção, dirigidas por pessoas honestas. Sonha com um legislativo atuante, independente, sensível às aspirações e às críticas da sociedade; engajado na luta pela construção de uma verdadeira democracia. Sonha com políticos sérios, honrados, comprometidos com o interesse público, fiéis a seus partidos e aos eleitores. Sonha com parlamentares que engrandecem o mandato com a nobreza do seu caráter e a abundância de suas virtudes. São exemplos para todos nós. Sonha com pessoas de bem, que cumprem o seu dever, que não use o dinheiro público para mordomias, que não multipliquem os seus bens com o desvio de recursos. Sonha com um Presidente inimigo da corrupção, engajado na luta contra o analfabetismo e a miséria. Sonha com eleições republicanas, onde os eleitores são independentes para votar, não se subordinando aos benefícios do governo nem aos favores dos candidatos. Sonha com um Brasil, onde os campos são mais verdes, os rios mais cristalinos, os lares mais felizes. Sonha com um Brasil bonito, sorridente, brejeiro, dando ao povo alegria e orgulho de ser brasileiro. Sonha com a felicidade.

Quando a gente cresce, a realidade rouba todos esses sonhos. A alegria se transforma em tristeza, o sorriso em lágrimas, a paz em violência. A beleza se ausenta dos campos, dos rios, das florestas. Até o céu deixa de ser azul, a noite de ser estrelada. A esperança foge para longe como fazem as nuvens tocadas pelo vento. Os homens de bem desaparecem. Os honestos sentem vergonha de ser honestos. Em seu lugar aparecem os maus e os corruptos. Estes crescem como cogumelos e continuam impunes. A justiça se torna prisioneira das formalidades e da morosidade, sendo rápida apenas na proteção dos poderosos e nos aumentos de salário. Nos tribunais não há espaço para guardar processos. Muitos caducam. Os ladrões e assassinos vivem soltos e as pessoas de bem aprisionadas. A igualdade entre as raças dá lugar à discriminação. A cor da pele se torna mais importante do que o mérito da competência. O governo dá refúgio a assassino estrangeiro. Faz aliança com pessoas corruptas. Dá uma versão moderna à escravidão, abolida há mais de um século. Transforma os pobres em prisioneiros de benefícios, tirando-lhes a independência do voto. Substitui a escravidão da pele pela escravidão da pobreza. Surge uma democracia irreal e distorcida. No Senado, a virtude é mais rara do que neve no deserto. A transparência dá lugar a atos secretos. Os escândalos não têm dia de folga, nem nos feriados. Os parlamentares são benevolentes com as mordomias e as gratificações dos apadrinhados. Enviam seus protegidos para estudar no exterior à custa do contribuinte. Suas fortunas se multiplicam. Uns possuem até castelo. Parlamentar pobre é coisa rara. Insistem em ficar ricos. Tudo isso levou meus sonhos à decantação. Colocou uma coroa de espinhos em minha cabeça. Mas mesmo assim continuo a caminhar. Insisto em viver e ser honesto. Não quero me sentir morto para a democracia. Quero continuar vivo para pedir a todos uma sobrevida à esperança, rejeitando nas urnas os atuais parlamentares. São eles que nos fazem sofrer, que imobilizam o nosso futuro., tornando-o distante como o encontro do céu e do mar. O maior desejo de nossa gente é que os homens públicos sejam honestos, pelo menos um dia em sua vida. Talvez assim tomem gosto pela honestidade e possamos ser felizes. Gostaria que os parlamentares dessem dignidade ao nome, trabalhassem pelo Brasil, aproximassem o futuro do presente e dessem alegria ao povo brasileiro.