22 de abr. de 2016

SER SOLDADO

General José Batista de Queiroz

É ter orgulho de ser soldado e saudade de ter sido; é ter somente valores e alegrias a serem repassados para a família e as gerações; é ter dentro de si o ideal da servidão até o limite da vida.

É lutar incansavelmente pela continuidade de valores, resistindo às investidas desagregadoras dos homens e do tempo, à semelhança das palmeiras que resistem à força do vento.

É ver na profissão a pureza de um altar revestido de branco, a retidão de um caráter cimentado pelas virtudes, a grandeza de um ideal marcado pela servidão.

É ter a Pátria na alma e no coração; é amá-la com sinceridade, sem fingimento, sem rodeios, sem falsidade; é ser capaz de dar a vida por ela; é servir ao País como o monge serve a Deus; é sentir em seu coração as melodias de sua terra.

 

É sentir saudade da alvorada e do silêncio; ouvir o toque de um clarim como se estivesse ouvindo o canto de um rouxinol; recordar as horas passadas em seu posto de sentinela, sentindo a brisa das madrugadas; conviver com a solidão da noite e namorar as estrelas no céu.

É ir para o quartel com os últimos lampiões da noite e os primeiros raios do sol, sentindo o sabor das manhãs; é marchar todos os dias, com elegância e vibração, ao som dos dobrados militares; é cantar com alegria e entusiasmo as canções que se aprendem nos quarteis.

É ter orgulho do uniforme como o padre tem da batina; é trabalhar com o entusiasmo de quem é jovem, com a alegria de quem é feliz; é acreditar na sua missão de defender o Brasil e preparar-se para ela com dedicação e fé.

 

É não fraquejar diante das incertezas e dos obstáculos; pensar sempre no sucesso, nunca no fracasso; ter liderança para conduzir homens no cumprimento da missão; ser como uma águia voando para o alto, cheia de esperança.

 

É viver a paz preparando-se para a guerra; estar na guerra lutando pela paz; ter coragem de enfrentar a batalha como os rochedos enfrentam o mar; ter a valentia de um centurião e ser um guerreiro durante a vida inteira.

 

É ter o espírito colorido de verde-amarelo; acreditar no Brasil como os rios acreditam no mar; pensar no futuro como as flores pensam na primavera;  guardar no coração as canções que embalam ou embalaram a sua vida na caserna.

 

É estar presente no Brasil inteiro; é viver esquecido na paz e na alegria e ser lembrado nas calamidades e na dor; é ser solidário aos desamparados e estender a mão aos humildes e necessitados; é ser motivo de orgulho para um povo e merecer a sua confiança e admiração.

 

 

É possuir a etnia das raças, o sentimento das pessoas, a simplicidade dos humildes; é ter o sorriso aberto de nossa gente, o espírito bondoso de nosso povo; é ouvir o canto do vento nas palmeiras, o hino da passarada nos arvoredos; é ser a roupa que veste o povo do Brasil; é ser um brasileiro de alma e coração.

 

É morar nas regiões mais distantes e isoladas do país, cumprindo o seu dever com abnegação e zelo; é conhecer a floresta e a caatinga, as serras e as coxilhas, os sertões e as praias, os rios e os mares; é conhecer as diferenças deste Brasil imenso.

É vigiar cada pedacinho do céu que cobre o Brasil; proteger o mar que abraça a nossa terra;  defender o solo onde vive a nossa gente; é garantir a soberania do país que pulsa forte em nossos corações .

É ser um cidadão comum, semelhante àquele que anda pelas ruas, que cruza com as pessoas, que brinca com as crianças, que ama o próximo, que sorri para os outros, que é companheiro e amigo, que é honesto e confiável.

É não ser melhor nem pior do que ninguém; é cumprir o seu dever com seriedade e zelo; é ter olhar sincero e atitudes francas; é usar palavras simples para dizer a verdade.

É aceitar as diferenças, sem preconceito de raça, de condição social, de religião, de ideologia, de idade; é ser um brasileiro oriundo dos pampas, das coxilhas, das serras, das florestas, dos pantanais, dos litorais; é ter origem nas choupanas, nos palácios, nas cidades e nas fazendas, nos bairros ricos e pobres; é ter a cor do Brasil.

 

É estar em sintonia com as aspirações do povo que representa; é respirar o mesmo ar que ele respira e sentir a mesma dor que ele sente; é estar ao lado da liberdade e da democracia; é não ter espírito de vingança e não ser prepotente; é saber perdoar e oferecer a seus adversários a sua mão amiga e tolerante.

 

É buscar a felicidade na alegria de servir, na simplicidade da vida, na honra do uniforme, na nobreza da missão; é ter a virtude de um rei sem ser rei, a simplicidade de um monge sem ser padre; é ter orgulho de si mesmo e não ter vergonha de ser honesto; é viver um sonho e querer ser soldado para sempre;  é ser um brasileiro de corpo e alma; é  ser gente...

2 de abr. de 2016

SAUDADE DE GRANADEIRO

Se a primavera é a estação mais alegre do tempo, hoje é o dia mais saudoso do ano. Mais uma vez aqui estamos reunidos, de coração umedecido de saudades, para juntos celebrarmos a união indissolúvel de homens que vestiram, no passado, o uniforme garboso do Batalhão da Guarda Presidencial. Mais uma vez, vamos palmilhar a estrada do tempo que nos leva ao passado, em busca daqueles momentos que tanto marcaram nossas vidas, e deixaram fortes lembranças enclausuradas em nossos corações. Hoje, vamos acordar as saudades adormecidas e repartir as alegrias esvoaçantes, que estão penduradas dentro de nós.

                Quando ainda viviam o tempo doce de suas vidas, o dever os levou pra longe, longe de seus pais, de seus amores, de sua terra natal, rumo a Brasília, uma cidade que nascia resplandecente no coração do Brasil. O ponto de encontro de todos vocês foi o BGP, um Batalhão que deixou registrados, nos seus pensamentos, dias de saudade, uma saudade brejeira que, até hoje, continua viva, flutuando na alma de cada um.

                Vocês se tornaram granadeiros e granadeiro é aquele que já traz dentro de si uma semente de amor ao Exército e ao Brasil, um amor em constante ebulição, iluminado e prateado por raios de sol. Assim são vocês e assim serão pela estrada do tempo, porque o peito de um granadeiro é a morada segura da virtude de um soldado. Seus exemplos são como raios luminosos, que irrigam e atravessam gerações, deixando sulcos na memória do tempo. Ser granadeiro é ter o espírito colorido de verde-amarelo, é ser um brasileiro de alma e coração, é viver um sonho para sempre.

                Hoje, os corações aqui presentes têm cheiro de lembranças, lembrança do passo vagaroso do tempo, em que os acordes de um clarim interrompiam o sono repousante de vocês, anunciando o nascer de mais uma aurora. Era mais um dia de saudades, saudade do lar aconchegante, dos rostos suaves, dos momentos alegres, dos anos que não voltam mais. Era uma saudade que exprimia o peito e torturava a alma.

                Vocês jamais se esquecerão das horas de sentinela, dentro ou fora de uma guarita, ouvindo o silêncio da noite, observando o céu semeado de estrelas, vendo a lua prateando a relva, ouvindo o vento rumorejando nas árvores, sentindo os ardores de um sol a pino, vendo o manto azul salpicado de nuvens brancas, contemplando o sol a beijar as serranias e o dia se afogar na noite. Eram momentos de meditação, de sono, de cansaço, de saudade. Como era lento o passo das madrugadas! Como seria bom se fosse possível acelerar o tempo! Mesmo na adversidade, você, granadeiro, pode ser comparado àquilo que, na memória dos homens, existe de mais heroico, de mais valente, de mais soldado.

                Até hoje, vocês carregam as lembranças daquelas noites melancólicas passadas nos alojamentos, enfrentando uma epidemia de saudade e tristeza. Naquele tempo já empoeirado, mantinham acesa a esperança de retornar ao torrão natal e abraçar a família, os amigos e os amores. E hoje aqui estão e ainda guardam no peito as lembranças de uma vida de soldado e ainda cantam as canções militares que o tempo não apagou. O tempo não faz com as lembranças o mesmo que o vento faz com a poeira.  Hoje, podemos dar as mãos e cantar as canções alegres que, no passado, empolgaram a nossa alma de soldado, porque somos todos frutos da mesma árvore.

                A saudade é um das palavras mais bonitas do dicionário e a emoção mais doce de nossa alma. Vamos em frente, granadeiros, porque os dias futuros nos aguardam, para nos saudar com mais alegrias, mais emoções, mais saudades. Ser granadeiro é ser a lembrança e o parceiro do tempo. O tempo caminha e nós caminhamos com ele. Obrigado Ibitinga, por nos acolher em seu regaço. Obrigado João Carlos, por nos proporcionar momentos alegres e saudosos como as primaveras. Obrigado Deus, por mais este encontro com a saudade.

General José Batista de Queiroz