14 de dez. de 2010

O COMÉRCIO DAS DROGAS

José Batista. Queiroz (*)

O consumo anual de drogas (cocaína, maconha e crack) no Rio de Janeiro está em torno de 100 mil toneladas. O faturamento ultrapassa R$600 milhões e o lucro operacional chega a mais de 40% do faturamento. Não há nenhum negócio mais lucrativo do que esse comércio. Ele tende a crescer, porque a demanda está aquecida e não para de aumentar. A droga é um comércio onde há oferta e demanda. A demanda é determinada pelos usuários, que precisam do produto para satisfazer o vício. Se há demanda, haverá sempre um fornecedor. As favelas ou áreas residenciais carentes, localizadas nas periferias dos grandes centros, representam o local mais seguro e adequado para a estocagem e a distribuição do produto. A expulsão dos traficantes dessas áreas ou a sua prisão não elimina ou impede o consumo. Aparecerão sempre outros fornecedores em outros locais. Quando se desencadeia uma operação de combate ao tráfico, como a que ocorreu no Rio de Janeiro, os traficantes mudam de endereço ou de nomes.
O comércio das drogas apresenta dois vetores: o tráfico e o consumo. Um não existe sem o outro. Se o poder público realmente estiver interessado em combater as drogas, deve atuar nesses dois vetores. Não adianta combater o tráfico se o consumo continua o mesmo. É preciso ter um programa de prevenção, que seja sistemático e abrangente, capaz de construir nas mentes das crianças, dos adolescentes e dos jovens uma forte barreira contra o uso das drogas. Não é por meio de palestras ocasionais nas escolas e universidades que se mudará a atitude das pessoas diante dessa problemática. O poder público precisa ser mais contundente e eficiente na prevenção. Atuando de forma ampla, em todos os níveis de poder, o governo poderá reduzir ou, no mínimo estabilizar, esse comércio, tão prejudicial à saúde das pessoas e da sociedade. Não se pode combater as drogas sem vontade política. Para lograr êxito, precisa-se transformar essa luta em objetivo nacional a ser perseguido dia e noite, incansavelmente. O governo conhece as causas que levam as pessoas ao uso das drogas. O que tem a fazer é atuar nessas causas, com vontade, vigor e determinação. Também sabe por onde elas entram no país. Entram pelas fronteiras, principalmente por via terrestre. Não se combatem as drogas apenas com operações policiais. Elas são importantes para desmantelar os quartéis-generais do tráfico, mas não suficientes para reduzir o consumo. O combate às drogas é uma luta difícil, mas precisa ser iniciada e continuada. Não se tem êxito, quando não se tem vontade de lutar e vencer.

(*) Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil